segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

As emoções em Aristóteles: dissertação de mestrado

Ontem tive a coragem de finalmente revisar minha dissertação de mestrado. Gostaria de agradecer ao Professor Roberto Bolzani pela leitura extremamente meticulosa e pediria desculpas pelos erros crassos que cometi. A conversão do documento para pdf não é perfeita e existem algumas passagens em que os acentos do grego antigo simplesmente não entram.

Vai meu filho pródigo, voa.



https://www.dropbox.com/s/ht20gsmnkeu7gii/C.N.A.LEITE%2C%20Danilo.%20A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20emo%C3%A7%C3%A3o%20em%20Arist%C3%B3teles%20%28EN%2C%20II%20e%20Rhet%2C%20II%29%2C%20revisada.%20Disserta%C3%A7%C3%A3o%20da%20USP.%20S%C3%A3o%20Paulo%2C%202015.pdf?dl=0

domingo, 22 de dezembro de 2013

Nenhuma chuva em vão

Bem... cada parte do romance será um romance independente. Hoje estava escrevendo o que chamei de 34ª versão da realidade, quero dizer, 34ª versão do romance sobre a máquina do tempo. Trata-se, provavelmente, da melhor versão de todas. Nela mergulho no gênero científicoficcional sem medos, diferente do que ocorre em outras versões da história. Estou confiante de que deveria começar a escrever o romance, em uma de suas variações, por aí.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Nenhuma chuva em vão

É preciso evitar a ilusão de que existe uma continuidade entre as 6 versões que comecei a escrever da história. Abrirei mão dos subtítulos. Serão 6 histórias a serem lidas independentemente. Obviamente algo de constante se mantem, já que os escrevo quase ao mesmo tempo. Aumento capítulos em qualquer parte e escrevo sem método praticamente todas ao mesmo tempo. Mas tenho para mim as hipóteses para que o romance, os romances, se mantenham de pé. Acho que isso é suficiente para prender a atenção do leitor. Existem várias saídas para este labirinto e isto me anima a escrever.  A máquina está enterrada e sua principal entrada é pela biblioteca; a própria máquina pode transportar o viajante alhures; depois a edícula que está sobre a máquina. Estas saídas "físicas" que o romance sugere são apenas metáforas.

Vejamos se não me perco aí dentro!


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Nenhuma chuva em vão

O romance está ganhando forma. Estudar a história da cidade de São Paulo realmente tem me inspirado muitos personagens e situações. De modo que me sinto aliviado por ter de provar com argumentos científicos a possibilidade de uma máquina do tempo. O romance está dividido em 6 partes: partida, paredes, perspectiva, pele, plúmbeos, pedras e plantas. Cada uma corresponderia a uma versão e uma edição da realidade.
Cada uma dessas partes apresenta de maneira fragmentada hipóteses para que a história faça sentido, mas com sorte conseguirei escrever um romance absolutamente despido de verdade interna.
A unidade narrativa é mantida pela constância dos personagens. Um romance baseado um pouco no ethos dos personagens, e de peripécias e de enredos que se sobrepõe.

Em breve pretendo colocar alguns capítulos aqui.

domingo, 1 de setembro de 2013

Aforismo sobre emoção



A emoção imita a doença em todos os seus aspectos: primeiro, implica a totalidade real do sujeito; segundo, evidencia a interdependência do sujeito e do contexto; terceiro, oferece um recorte para compreender a sensibilidade; quarto, permite observar a atitude do sujeito.

A doença que imita uma emoção é uma emoção; e o psiquismo humano, por sua vez, é o resultado da emulação e cooperação entre emoção e emoção, de modo que a própria definição de "doença" corre o risco de ser somente uma noção em permanente fuga.

Nesse sentido é interessante notar que a palavra utilizada por Aristóteles para indicar esse conjunto seja "pathos"; significante aparentemente sem origem indo-europeia, possui entre seus cognatos palavras de viés negativo, aqui compreendendo "negativo" como quase rigorosamente sempre palavras que indicam o aspecto passivo e sofrente do sujeito. Diferente de Platão, que utilizou mais sistematicamente uma divisão entre prazeres e dores, passados e futuros, para indicar essa classe de eventos anímicos que imita a doença e com ela compete em última instância; Aristóteles busca palavra préexistente e lhe significado alargado; ali se inclui - conforme as obras éticas - o terceiro e o quarto ponto que levantei acima.

A emoção, nesse sentido, não é algo bom; ela é adaptativa. Os estóicos indicavam emoções boas ajuntando o prefixo "eu" à palavra "pathos" na forma abstrativada "patheia": "eupatheia".

O verbete "pathos" do livro delta da Metafísica progride da mais nuclear noção de passividade do sujeito à noção de mais extremo sofrimento, o que mostra que Aristóteles era fiel de algum modo à etimologia que a língua grega fundava.

Emoções prazerosas não são boas em si, assim como as dolorosas não são más em si. Basta pensar em uma doença que torne nossa derme mais sensível; isso pode ser um suplício para quem trabalha sob o calor ou frio extremos; por outro lado, isso pode ser milagroso para quem é acariciado.

Elas são governadas por vários eixos, um eixo de maior e menor cognição, interação; um eixo de excitabilidade; um eixo de densidade atitudinal e temporal. É difícil falar em "reação" no que tange à emoção, porque neste caso não é possível falar propriamente em "passividade", logo o ser humano é reagente ao receber um estímulo; e de algum modo é mero instrumento ao reproduzir sua atitude.

Dado traço definicional adaptativo da emoção; doença de que nunca nos livramos, se não para cair em outra nova; equilíbrios estereotipados, implicando sensibilidades e atitudes prérrecortadas; normalidades e enfermidades. Reduzir o ser humano, enquanto está envolvido e comprometido com a realidade, a uma emoção dessas, ou a duas - amor e ódio - é reduzí-lo.

Tamanduateí, 1º de setembro de 459

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Londres

Isso são observações sobre uma cidade que eu absolutamente não conheço, mas que é definitivamente fascinante. Primeiro, a sensação de ser um terrorista por usar barba e não ser loiro. Vejam bem... se eu fosse loiro, provavelmente não haveria problema, mas sendo moreno sou visto um pouco como um árabe/italiano/português em roupas ocidentais.
Li recentemente no primeiro seminário de Lacan uma referência à dupla função da língua, uma de reconhecimento e uma de comunicação. É evidente que sem a primeira, a segunda está ameaçada. Por que isso me afeta? Bem, se estou tentando treinar meu inglês, eu em tese preciso ser encarado como um interlocutor, e não como uma carteira com algumas parcas libras prestes a serem despejadas em solo londrino. Pois bem, salvo engano a palavra "escalator" não pode ser pronunciada de muitas maneiras em inglês ou mesmo em brazilian-english - se me permitem o barbarismo - de modo que não acredito que - dentre as dezoito ou 'n' possibilidades - eu tenha pronunciado por engano a palavra "lift" por engano ou a palavra "exhibition". Mas essa foi a informação que recebi, sobre as "exhibitions" e sobre os "lifts".
E acreditem, se estou escrevendo, não é porque isso ocorreu somente uma vez.
Vocês já perceberam que ensaiei uma explicação para isso. Serei um árabe aos olhos britânicos? Algo menos que um interlocutor?
Uma música para todos se concentrarem no que estão fazendo.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

O título

Ontem, voltando do banco e como sempre perdido e pensando, uma frase, um verso de um poema que brotava na minha mente, e agora não sei dizer se já tinha pensado nesse verso antes ou não... Não sei ao certo. Mas pensei que nenhuma chuva é em vão.
Nenhuma chuva é em vão.
E pensei que talvez esse fosse um bom nome para o livro que estou escrevendo... "As Mensagens do Tempo", "Bilhete do Tempo". Esses sempre foram nomes definitivos do romance. Porque se trataria de um romance pretensioso sobre reviver o passado e saltar ao futuro.
Mas um novo nome, um que diga menos sobre o conteúdo, menos antecipatório, preparatório, um título que seja somente uma observação mineral, sem ação; talvez se retirarmos o verbo ser:
"Nenhuma chuva em vão"

Quando minha casa desmoronar,
por causa da borrasca imaculada,
comigo dentro e contigo saindo,
não olhes atrás, amigo, mas parte.

Nenhuma chuva chega em vão,
não encontrei pérolas por acaso
no suave pescoço daquela mulher,
pérolas perecíveis, que a água lava.

Depois que a mansão desabar,
e estiveres longe, inarrependido,
permito-te um breve descanso,
numa esquina. Que te dê fôlego!

No teu cansaço eu serei teu açoite
não haverá moradia, nem repouso,
não estarei lá. Não olhes atrás. Vai!
Sente essa chuva. Pérolas voadoras.

Onde havia essa casa, hoje o fosso,
como uma ostra banhada pelo céu,
engolindo diamantes. E um fugitivo,
onde estavas, um caminho, onde moravas...



sábado, 25 de maio de 2013

Mensagem de escritor

As pessoas em geral ouvem com interesse os enredos que tento elaborar. E descubro que tenho um prazer bandido de protelar o texto. É muito melhor contar uma história cara a cara. É animado, como o teatro, o cinema. Um gesto numa mesa de um bar, de um restaurante, um olhar, mesmo que seja para narrar uma história, é delicado e significativo. A história sai ao mesmo tempo no que digo e no que faço. Imagino o tremendo prazer dos aedoi, dos griots, dos repentistas, trovadores. É circense. Com a atenção alheia voltada para nossa boca, a narração pulsa. Quantas histórias boas são contadas por cima de mesas todos os dias ao redor do mundo? Salvem as mesas, esse palco informal e nivelador! Quantas histórias contadas em pé, em estado semiébrio? Salvem as calçadas, os cantos com boa acústica, salvem as cantadas bem feitas e artísticas.
Contar a história ao vivo é mais curto e mais interessante. Isso me desencoraja um pouco. Um pouco.
Quando comparo a história que conto à história que escrevo, me sinto um tanto incompreendido... por mim mesmo. A escrita tem algo de intrinsecamente pretensioso.


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Escrevendo um romance: mensagens do tempo

Salvo engano, há alguns dias escrevi o último capítulo deste romance. Por muito tempo pensei que ele seria uma história de homens e que faltava densidade aos meus personagens femininos. Minha escrita toda talvez padeça disso. Mas esse último capítulo, espero, é um salto polifônico de uma voz feminina gritando dentro do livro. Ademais, estarão todos gritando e urrando dentro desse livro, de modo que seria difícil, senão impraticável, saber se de fato alguém inventou alguma máquina do tempo.

Conforme o escrevo, tenho a impressão de que o narrador e o leitor - os autóctones do tempo - estão competindo com os personagens para criar algo. Não é possível dar atenção às duas coisas ao mesmo tempo - e isso é uma confissão patética de um autor - e claramente o livro ganha a dianteira enquanto narrativa, ao passo que o enredo se torna dependente do livro.
Por outro lado, nessa competição perdem todos. Tampouco é possível saber se o livro, se o narrador e o leitor - autóctones do tempo - inventaram algo novo. É outra confissão patética de autor. De ambos os pontos de vista, parece que me comprometo com uma ficção científica irrealizável e com um romance metalingüístico que tem pouco interesse para o leitor.
Inovar parecia tão necessário quando comecei a escrever essa ideia, que acabei me inspirando em grandes inovadores para isso. Ocorre que meu ponto de partida é irreplicável: James Joyce, Haroldo de Campos, Paulo Leminski, Ezra Pound, Macedonio Fernandes, Boris Vian e Bioy Casares. Mas se algo deve definir este romance é o desejo de perseverar e de não ser apenas promissor. Como autor, e essa é uma terceira confissão patética, não pretendo parar antes que a obra apresente em todos matizes essa competição entre inovação e reflexão e o fracasso inevitável que essa contenda gera. Ninguém vence numa cidade, num mundo e num ethos em que as atitudes esclarecedoras estão desconectadas.

sábado, 18 de maio de 2013

Escrevendo um romance: Mensagens do tempo




Há algum tempo pensei em relatar, para mim mesmo pelo menos, métodos que estão dando certo para a execução de um projeto de romance que concebi há uns oito anos - as mensagens do tempo. Trata-se de um romance que aborda a construção de uma máquina do tempo na cidade de São Paulo.
Em primeiro lugar, escrever diariamente é sem dúvida algo que me auxilia a não esquecer o fio da história e decisões recentes que tomo sobre a prosa. Os personagens crescem pouco a pouco e suas personalidades precisam de labor diário, uma pequena dedicação às suas angústias, medos, coragens torna o resultado mais verossímil. Acredito.
Como este livro conta a história de um personagem que inventa uma máquina do tempo, tive várias versões para como executar esse plano e dar ao leitor a noção de deslocamento, deslugarmento, qual palavra exprimiria essa ideia de estar onde sempre se esteve sem reconhecer seu próprio lugar? Pois bem, a máquina é inerte, bem entendido. Ela não seria uma nave, um avião, ela seria um estilingue arremessando bumerangues no tempo, objetos que retornam exatamente o lugar de origem, mas em tempo diferente. Essa ideia do bumerangue é interessante, porque deixa claro que a viagem no tempo que proponho não pode resolver os dois problemas simultaneamente: não deixa o transeunte escolher onde quer chegar e quando. Somente quando e ainda com certas limitações que o romance tenta apresentar.
Aproveitei-me da inverossimilhança da própria ideia de uma máquina do tempo para deslugar meu leitor em relação à própria inverossimilhança do romance. O leitor parece observado o tempo todo. Desejo fingir um diálogo que está para sempre protelado, postergado. Imagino as respostas que daria ao narrador do livro e o faço duvidar dessa narração imparcial. O narrador é um personagem inverossímil, veículo da prosa, que nos leva do começo ao fim do objeto-livro, ainda que a página-começo não sconte algo anterioro à página-fim. Existe algo de irreal nessa seqüência; de irreal e implacável. Por mais que haja Rayuelas e Museos de la Novela de la Eterna, e que o leitor independente e inteligente possa finalmente resistir à leitura seguida, um livro é apenas um pergaminho cortado de maneira regular e encartado entre duas capas. Um livro não é um mapa, não passamos de um continente ao outro com navios em um livro, sem percorrer cada istmo, ilha, etapa, forte, delta, polyfemo, tártaro, elýseo. Pois como representar uma máquina que atravessa eras sem um mapa muito preciso do tempo? Eu posso tentar abrir essa picada, como um bandeirante literário, criminoso, leviano e desumano. Mostrar que chegamos a eras distintas e delas vamos roubando a essência daquela máquina, por via das dúvidas, caso nosso protagonista não consiga inventá-la:
"Es indudable que las cosas no comienzan cuando se las inventa. O el mundo fue inventado antiguo" (Museo de la Novela, Edição Allca XX/Scipione, p. 8)
"pues para algo se apura el demorado; para llegar adonde no sea tarde" (idem, p. 16)

sábado, 4 de agosto de 2012

Prosa: Resenha sobre 'Aristotle on Emotion' de Fortenbaugh

Boa tarde a todos,
abaixo anexo o link para a versão integral de uma resenha que será publicada na Revista Hypnos de Filosofia Antiga do Departamento de Filosofia da PUC-SP, em versão reduzida.

Trata-se de um dos melhores livros, se não o melhor, sobre a questão das emoções em Aristóteles. Expõe todo o status da investigação moderna sobre o assunto das emoções em Aristóteles, relaciona nosso filósofo com Platão. Explica quais são as conseqüências da concepção de 'emoção' para a filosofia prática do Estagirita. E ainda especula com proficiência sobre o famoso e incógnito livro 2 da Poética, onde o Filósofo trataria da comédia e das emoções alegres.

I hope you enjoy!

https://www.dropbox.com/s/ffdcxiy70eycafr/LEITE%2C%20D.%20Resenha%20%27W.%20W.%20Fortenbaugh%20%282002%29.%20Aristotle%20on%20Emotion%27%20v.%202%20mai.%202012.pdf



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Para que serve um blog?

Abres este blog como quem abrisse um livro: cansado e empedernido. Depois tudo é tão difícil: a vida, o trabalho, os relacionamentos, as amizades e as obras. As obras são impenetráveis de fora e de dentro. Um livro muito hermético é como um bloco de concreto. Eu gosto de pensar que os olhos brocam os blogs, os emails e as notícias. Mas os olhos se cansam rápido e assim como abriste este bloco com olhos de brocar, dele sairás um pouco mais afiado - ou um pouco mais cego - e uma terceira hipótese é algo excluído.

Para que serve um blog?

Sampaulo do Rio Piratininga, 6 de julho de 458


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Rima CVII de Michelângelo

CVII

Mis ojos, que codician cosas bellas
como mi alma anhela su salud,
no ostentan más virtud
que al cielo aspire, que mirar aquellas.
De las altas estrellas
desciende un esplendor
que incita a ir tras ellas
y aqui se llama amor.
No encuentra el corazón nada mejor
que lo enamore, y arda y aconseje
que  dos ojos que a dos astros semejen.



tradução de Manuel J. Santayana Ruiz

http://cultura.elpais.com/cultura/2012/05/22/actualidad/1337709229_551716.html 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma vez Piratininga

"São Paulo é solidão. Lava que cobre tudo. Atravessar a ponte sobre o rio Pinheiros a pé, existe algo mais desolador que isso?" Arrigo Barnabé

(http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-musicais/geral/diretamente-da-portela-para-a-ponte-do-rio-pinheiros)

Bem, acabo de criar a página para "Uma vez Piratininga", poema-prosa, em que minha inquietação é confessar amor por algo sabidamente feio e excludente. Penso que a cidade talvez mereça mais atenção, enquanto cidade. Não gosto de me sentir culpado por coisas que não fiz, porém São Paulo - para quem resolve amá-la enquanto cidade - nos coloca nessa posição: aprisionamos e matamos os tupis e outras etnias; usamos escravos, moemos irmãos de outros Estados em nossas indústrias, exploramos estrangeiros; e queremos mais dinheiro, mais poder, mais pujança. E, culpa que carrego com poucos, destruímos rios, canalizamo-los, sujamo-los; desmontamos as ferrovias, os bondes. Somos incapazes, simplesmente incapazes de defender até o fim o bem público da cidade, enquanto espaço onde vivemos. Pensamos em São Paulo como lugar onde trabalhamos, abandonamos toda a perspectiva de lutar pela cidade e reverter o que há de descaradamente injusto. Por isso nunca vou me perdoar.
Carregamos lixo rio acima rio abaixo sem nos importarmos; as marginais carregam mercadorias; a cidade é um monstro que se esqueceu de que existe e respira, um Titã-máquina. Temos população de países e instituições públicas absolutamente amadoras, desconectadas com a realidade. Uma sociedade civil fragilizada e semi-enlouquecida. A xenofobia, estupidez pura, se espalha.
Anexo abaixo um documentário. Já o vi e tresvi, é singelo e despretensioso; documentário sobre os rios de São Paulo. Pensa, amigo, que o Rio Ipiranga, aquele nojo enjaulado em cimento, é o mesmo verdammter rio onde se declarou a Independência...


Metrópole fluvial for you! 1º bloco de entrevista do arquiteto Delijacov, apresentando sua concepção, muito interessante, sobre a Metrópole Fluvial!

2º bloco


3º bloco


Já que minha vida é esticar o legado dos que vieram antes de nós, digo com Drummond, que mais paulistano não pudera dizer: "Preciso de todos."

terça-feira, 24 de abril de 2012

Ezrism

'Khármides' não soa como um nome próprio, ou melhor, pode ser uma infinidade de coisas; dentre as quais, um prurido nas pálpebras; uma erupção cutânea no céu da boca; um blend de baunilha e canela; um tipo de bala de côco; uma ave rara da Mata Atlântica; um diálogo de Platão. Quando estiveres à beira da morte, amigo, tenta decidir a que gênero de coisa pertences. Verás que é tarefa árdua. Digamos que 'Khármides' soe como uma doença mental. Se o 'Khármidismo' for uma doença mental, leitores, então durará tanto quanto a própria mente humana durar, o que é uma maneira enfraquecida de se declarar eterno. Digamos que 'Khármides', enquanto enfermidade psíquica, é materialmente eterna (para todos os efeitos, 'Khármides' dura enquanto durar a espécie humana, porquanto o homem é definido pela presença do fenômeno mental). Ora, não está em nossa alçada dizer-lhe não ser uma doença ou decidir se um homem é um homem, se é mulher; se ele é um malestar, se é um objeto! É próprio do ser humano escolher o saber e a estupidez e dedicar-se ao bem e ao mal. O erro é acreditar sermos coerentes o tempo todo... Meu ponto é apenas o seguinte: é plausível desejar a eternidade e é plausível obtê-la, se se definisse o personagem como uma doença mental.
O 'Kharmidismo', nesse sentido, é uma família de estruturas psíquicas esquizofrênicas. Enfermidade pouco conhecida e pouco divulgada, ela envolve um complexo de quatro expressões básicas, calcadas na mesma estrutura 'polymathism+solipsism': Ezrism; Quijotismo; Ulissism; Gargantuïsme.

Anna O.


Ezrism (Galaxismo em português)

A. Characteristic symptoms: at least one of the following
1.      Polymathism, bellettrism
2.      Hallucinations of grandeur and solipsism
3.      Disorganized speech in prose or in verse due to severe polyglotism
4.      Grossly abnormal behavior, such as catatonia
5.      Restricted affect, avolition, asociality, acritical conservantism
B. Social/occupational malfunction: For a significant portion of the time since the onset of the disturbance, one or more major areas of functioning such as work, interpersonal relations, or self-care are markedly below the level achieved prior to the onset (or when the onset is in childhood or adolescence, failure to achieve expected level of interpersonal, academic, or occupational achievement).
C. Ezration: Whole life or as long as the subject's intellectual vigour resists. Symptoms may be manifested at once, alternatively. But at least two of the above listed at a time (Criterion 'A'). Odd beliefs and singular ones, regular monologues and ordinary irritation before ignorance and before revolutionary ideologies.
D. Ezraffective and Mood Disorder exclusion: Ezraffective Disorder and Mood Disorder With Psychotic Features have been ruled out because either (1) no Major Depressive or Manic Episodes have occurred concurrently with the activephase symptoms; or (2) if mood episodes have occurred during active-phase symptoms, their total duration has been brief relative to the duration of the active and residual periods.
E. Substance/general medical condition exclusion: The disturbance is not due to the direct physiological effects of a substance (e.g., a drug of abuse, a medication) or a general medical condition, but to the writing in different languages with different verses (including blank ones).
F. Relationship to a Pervasive Developmental Ezrorder: If there is a history of Autistic Disorder or another Pervasive Developmental Disorder or other communication disorder of childhood onset, the additional diagnosis of Schizophrenia is made only if prominent delusions or hallucinations are also present for at least a month (or less if successfully treated).
G. Poetriness: "Alas, Ezra, the son of sounds of yore/ To thee, free philos of feeling and thought/ I now must turn and test my spirits/ Could my memory recall in thine mould/ what the unlearned nature hates to hide/ its sapientia and its sôphrosunê/ Mai no voldría parlar-ho amb la veu propia/ Se escrever sobre o escrever é o futuro do escrever... [and so on and so forth ad infinitum]"

sábado, 14 de abril de 2012

?in

Escrever me permite viver outras vidas, nas quais sou mais louco, mais puro e mais solitário. Isso ainda vai ser chamado, como espécie do gênero de Khármides, de "Quixotismo".
Estranho (e talvez estúpido) escrever isso em uma postagem pública. De qualquer forma, é sobre "?in" que pretendo falar. Esse poema que acabo de postar, pelo menos a primeira parte - "o Zero ora" - é obviamente inspirado em Ezra Pound e em Haroldo de Campos. Nele tento me comunicar numa língua lusa - decerto - que explora suas próprias possibilidades. Personificações (substantivações) de adjetivos, verbos flexionados etc povoam o poema, um épico que não faz sentido. O Zero centraliza a ação, competindo com o semperderrotado Vacu um, uma espécie de criatura do Zero, seu Filho, seu Concorrente. Entre esses dois solitários seres surgem tentativas de criaturas, uma guerra monótona se segue. O personagem-poético do Zero é sádico, onisciente, onividente, poeta. Faz e desfaz de livre alvedrío, com poucas interferências reina.

Ezra zera
   Haroldo doura'o...
Quixote thought

(o Zero borra o Tudo)


Todd Peterson's Quixote

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O gênero de Khármides III

Terceiro e quarto capítulos do gênero.

Escrevo um haikai para comemorar o começo do outono

Balanço do ar
lento, frio, traidor, ávido,
nos cabelos nus.

domingo, 1 de abril de 2012

O gênero de 'Khármides' II

Bem, acabei de finalizar o primeiro capítulo, com uma reflexão sobre a morte. Transcrevo um trecho em que penso em algo a partir de Machado de Assis e espero que lhes agrade:
"Assim como as memórias do protagonista transformam sua morte em vida, não seria abusivo classificar Brás Cubas como verme. Um verme não se rói a si, mas roeria um outro verme? O que Brás Cubas faz é roer-se como algo exterior a si, com a liberdade e o distanciamento crítico que pareceu impossível enquanto o sujeito era vivo. O argumento parece não oferecer obstáculos. Engano. As memórias, tal como um diário, assim como a digestão normal serve para conservar a vida daquele que consome, o máximo de tempo, servem para conservar a mente. As idéias frescas lhe róem a alma como os vermes lhe róem a carne. A reflexão está diante de algo vivo, o reconhece como vivo, está viva nessa relação; mas não pode deixar de ter, nesse caso, o aroma da morte.
Para nossa decepção, porém, descobrimos no ponto de junção do duplo – cadáver-escritor e bon vivant-dandy – aonde chegamos por último, que não há redenção para a vida de Brás Cubas"


sexta-feira, 30 de março de 2012

O gênero de Khármides

Bem, já sei por onde vamos começar a organizar a prosa: pelo projeto "O gênero de Khármides". É um livro sobre jovem à beira da morte em delírio: não sabemos se é homem ou mulher. Seus capítulos são colagens de formas narrativas diversas, poesias e contos. O gênero de Khármides é questionado em vários sentidos: é homem ou mulher? É um romance, um poema em forma de prosa, uma novela? São fábulas?
Vamos ver se terminamos logo.
Abraços,
Danilo Costa Leite